Que a música está presente em todos os momentos da vida, todos sabemos. Momentos de alegria, de festa, de encontros, de tristeza, de emoção. A arte nos acompanha e, tal como a cantora Maria Bethânia citou uma vez em uma de suas entrevistas, “existe, porque a vida não basta”. A criatividade e a troca de saberes criativos e culturais eleva a vida de um sentido prático, rotineiro e introvertido a uma convivência e consciência coletiva em que nos compreendemos enquanto sujeitos. É na arte que fazemos e na arte que apreciamos que se encontram a memória, a história e parte importante da cosntrução do nosso ser. Conheci a musicista Júlia Beatriz num momento em que buscava por essa criatividade, por um modo de ver a vida com mais arte e, principalmente, de investir na arte que mais me faz feliz, a música. Deste encontro entre estudantes veio uma amizade que digo que me ajudou a entender melhor os meus caminhos enquanto artista, e hoje seguimos numa parceria em que só tenho a agradecer. Obrigada a Júlia pela paciência e gentileza durante todo este processo transformador.
Formada em Violoncelo pela Orquestra de Câmara do SESC e em Canto Coral pelo Coral Jovem da mesma instituição, Júlia Beatriz é uma musicista multi instrumentista, e atualmente realiza outra formação em Violoncelo pelo CEFART/ Fundação Clóvis Salgado. Dentre suas experiências podemos citar ainda suas participações como violoncelista na Orquestra do CEFART, e no Grupo de Violoncelos Lisianto Cello. Como integrante do Grupo Patangome Maracarte, Júlia toca o gonguê e a alfaia. Suas perfomatividades plurais também incluem o Duo Dama da Lua, com voz e violoncelo; shows solo, experiências com gravações de áudio e videoclipes e, por fim, como violoncelista do grupo Mariana Roque e as Ofélias. Sobre este último, recomendo à leitora e ao leitor que busque conhecer; o encontro de trajetórias das musicistas traz a potência do encontro entre arte e história, entre música e protagonismos femininos. Trata-se de uma arte viva, com obras que perpassam a nossa sensibilidade de modo a nos possibilitar a conexão – ou a reconexão – com as nossas realidades e projetos de vida. Abaixo, a leitora e o leitor acompanharão uma breve conversa sobre a trajetória de Júlia Beatriz e suas experiências.
Paula – Júlia, você iniciou seus estudos ainda bem jovem, certo? Queria que você contasse como foi este começo de carreira: como surgiu a paixão pela música, se você e/ou sua família já tinham algum contato com o fazer musical e como você se informou acerca das possibilidades de ter uma formação inicial na área.
Jú Beatriz – Eu sempre gostei de música, e em 2016 tive o primeiro contato com o violoncelo. A orquestra de câmara do SESC se apresentou na escola que eu estudava, e informou sobre processo seletivo aberto para novos alunos dentro de determinada faixa etária. A orquestra é um projeto social de Belo Horizonte, que ensina música gratuitamente para crianças e jovens.
Paula- O que você percebe sobre a acessibilidade aos ensinos musicais e artísticos na sua cidade, acha que ainda pode melhorar, ser melhor democratizado?
Jú Beatriz – Em Belo Horizonte existem instituições com tal propósito, a forma como se dissemina essa informação, e como a população recebe isso, é o que torna popular ou não esse tipo de ensino.
Paula – O que mudou desde a sua formação pela Orquestra de Câmara do SESC? Gostaria de saber qual a sua visão sobre o seu processo de formação como musicista instrumentista e da sua própria essência artística: desafios, maiores conquistas e sonhos e objetivos futuros.
Jú Beatriz – É uma caminhada que abrange a vida, em todas as suas fases. O que mudou desde minha formação no SESC, foi especialmente essa mudança de fases. Entrei com 13 anos, portanto, o violoncelo me ensinou para além de música, valores de vida. E hoje me encontro na fase adulta, continuando aprendendo, e com uma bagagens de valores e respeito, construída através do violoncelo.
Tenho frutos e continuo semeando essa semente da música. Almejo continuar, e ter o privilégio de viver grandes momentos, e ser a diferença na vida das pessoas que ouvem minha música.
Paula – Você hoje é professora de música, o que esta experiência tem lhe proporcionado acerca de aprendizados e de percepções sobre as dificuldades e facilidades dos seus alunos?
Jú Beatriz – É uma experiência emocionante, que me ensina enquanto eu ensino. Espero fazer a diferença a vida de todo aluno.
Paula – Você se inspira em outras musicistas ou artistas em geral? Quais?
Jú Beatriz – Muitas! Cito algumas: Lázuli, Pitty, Jacqueline Du Pre, Janis Joplin, Amy Winehouse, todas minhas amigas musicistas, e várias outras…
Paula – Falando sobre as suas performatividades, vemos que a sua carreira é plural e que você tem experiência com diversos formatos, repertórios e públicos: pra você, o que a música representa e qual o papel das e dos artistas da música na sociedade hoje?
Jú Beatriz – Música é um trabalho fundamental para a sociedade. É trabalho mental, e espiritual, que leva alegria, amor, movimento, valores a população. O papel do artista é levar VIDA a sociedade.
Paula – Há alguma forma musical, período e culturas ou algum gênero com o qual você se identifique mais? Por quê?
Jú Beatriz – Música barroca, por sua estrutura musical e por sua formação instrumental, metal sinfônico, rock, samba, música erduita em geral, música alternativa, música experimental, maracatu, dentre outros…
Paula – Você faz parte de uma banda formada apenas por mulheres, com um repertório singular e que apresenta de forma única a relação profunda entre música, história, cultura e trajetórias. Pode nos contar como surgiu a banda Mariana Roque e as Ofélias e apresentar um pouco do repertório, falar sobre as referências de vocês?
Jú Beatriz – Conheci Mariana Roque em um centro de umbanda, ambas, se conhecendo pela primeira vez, e se apresentando em formação piano e violoncelo, juntas, sem ensaio prévio, em uma cerimônia. Após esse encontro, apareceram várias Ofélias para somar e construir algo tão poderoso juntas. Nossa referência é música celta, escandinava, medieval e folk.
Paula – Como são os processos criativos de vocês e demais experiências do fazer musical em conjunto?
Jú Beatriz – A Mari é nossa compositora e arranjadora, e nós lêmos as partituras. Alguns arranjos são construídos coletivamente e individualmente, e tocados de cór.
Paula – A banda lançou este ano a música “A Peregrina”¹, que dialoga muito com o sentimento da busca por si, pela realização. Como foi o processo de composição da canção? Vocês se inspiraram em alguma história ou histórias?
Jú Beatriz – Foi pensado nas mulheres que sofrem opressão e estão em situação de violência doméstica, interligando das rainhas medievais que não podiam deixar o castelo, precisavam procriar por obrigatoriedade, quando tudo que queriam eram ser livres. A música fala do sonho de fuga de uma rainha. A narração é a saída dela pelos portões enquanto se liberta saindo pela vila em total liberdade. Mas ela acorda e sabe que foi um sonho.
Paula – Pode nos adiantar um pouquinho sobre seus próximos projetos? O que vem de novo por aí?
Jú Beatriz – Vem muita coisa por aí!!!
Paula – Para a leitora e o leitor que quer acompanhar a sua carreira e agenda de shows, onde podemos encontrar mais informações?
Jú Beatriz – Me acha no instagram! @eujubeatriz. Temos também o Instagram das Ofélias, @marianaroqueeasofelias.
Paula – Por fim, gostaria que você deixasse um conselho ou dicas para quem quer aprender algum instrumento musical e/ou seguir a carreira de musicista instrumental, mas que ainda não sabe por onde começar.
Jú Beatriz – O primeiro passo é querer aprender. Se atente, pesquise sobre onde aprender música. Escolha a melhor opção para você, se dedique e aproveite a caminhada!
Notas
¹ Ver em: <https://open.spotify.com/intl-pt/track/7h2A1oeUfF41h5RgybAzpW e https://www.youtube.com/watch?v=bMrBAKEDOUc>.
Créditos na imagem: Divulgação. Mariana Roque e as Ofélias, ensaio, 2023.
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