O fim da Melancolia

 

morreu a Melancolia

 

numa manhã de vento

no pós-tempo

vestida de razão

molhou as pernas na dureza da vida

atravessando o campo da visão

 

morreu a Melancolia

 

era bela, a ninfa culta pós-moderna

vivia nos arquivos

nas telas, nas canções

lia as letras e se embebedava

tornando o dia uma intragável noite

sem futuro, sem rumo

passada, cansava de si

e se lançava aos demais como impressão plena

no altivo acúmulo sepulcrumênon de erudição

 

perdido estava o poeta

que engoliu a Melancolia e transmutou-se em gente

 

viu a grandeza da terra, dos céus, dos mares

e pôs-se a andar

na certeza de que o mundo é como folha d’água

e, emputecido, suspendeu a.Contação do tempo

cuspiu a Melancolia e foi viver, como os antigos, a Vida…

 

 

 


Crédito na imagem: Reprodução. Vincent van Gogh. Sower with Setting Sun (1888).

 

 

 

SOBRE O AUTOR

Isaías dos Anjos Borja (Xipu Puri)

Mestrando em Letras, Bacharel em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Se interessa por temas referentes às relações entre História e Memória, Decolonialidade, Histórias e Culturas Indígenas e pela Literatura Indígena Brasileira, tema de sua pesquisa de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras (POSLETRAS): Estudos da Linguagem da UFOP, vinculada à Linha de Pesquisa "Literatura, Memória e Cultura". É indígena do povo Puri, poeta, produtor e músico experimental, sendo autor de livros de contos e poesias (com o semi-heterônimo Alfredo e seu nome étnico Xipu Puri), participando de duas coleções literárias do Selo Off Flip, das antologias "Outros 500" e "(ECO)AR" da editora Toma Aí Um Poema, além de possuir publicações em portais acadêmicos e culturais. Em dezembro de 2022 lançou o Extended Play intitulado "taheantah tri", uma produção literária experimental com música. É coautor da dramaturgia ''Siaburu'', presente na Caixa de Dramaturgias Indígenas organizada pela N-1 Edições em parceria com a produtora Outra Margem durante a terceira edição do Teatro e Povos Indígenas (TePI). Siaburu estreou como espetáculo em junho de 2023, em Évora, Portugal e contou com a atuação de Xipu na produção musical. Em setembro de 2023 lançou seu segundo álbum, intitulado "Pindobeat". Atualmente se dedica ao estudo da História pela Literatura Puri, à produção artística, além de compor o corpo de colaboradores voluntários do Museu da Cultura Puri.

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