Enterra no silêncio da pedra essa intolerável coisa que é a infância, as vozes da noite no poço.

 

Apaga a infância isso que falta sempre à chamada e para sempre trocou já os desejos e os medos

Manuel Gusmão

 

 

 

No princípio chorei de olhos fechados, no princípio atingi o clímax pelo cacho do leite que diariamente arrancava com a boca no frondoso corpo da mulher operária. E depois, comecei a habitar os saberes das montanhas e dos líquidos campos das superfícies singulares dos retratos coloridos. Hoje tenho apenas 31 pedras atiradas no céu desta cidade. Onde vendo idades ao preço do tempo que me persegue pelas entranhas do hipotecado caminho da vida. No casco da mesma cidade jazem vários encontros das pedras vazias e dos rumores do mar. Nascem borboletas rastejantes nos ovos das acácias e morrem cobras voadoras em pleno decorrer do silêncio das estrelas engolidas pelo ventre maternal. Hoje voltei a sorrir de saudades, voltei a depositar lágrimas no corpo da lápide que responde pelo seu nome. Mas tenho de antemão que ela esta a enganar-me, pois a minha mãe já não reside nesta cidade que planta sorrisos quentes no horizonte florido de divindades e colhe-os de forma infame sem época, nem data, nem hora.com plumas de ânsia do tamanho do Everest 48 vezes reflectidas no zoológico espelho da dor.

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução: Para refletir: O tempo. Blog Boa Vida.

 

 

 

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