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A importância do ato de ler
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A importância do ato de ler 

Paulo Reglus Neves Freire, mais conhecido no meio acadêmico como Paulo Freire, foi um importante educador brasileiro do século XX, muito conhecido por seu método de alfabetização que quebrava o padrão do tradicionalismo educacional. O autor nasceu em 1921, nascido na cidade de Recife. O mesmo ficou mundialmente reconhecido pelo “Método Paulo Freire”, sua metodologia inovadora que colocava em destaque no processo de aprendizagem os saberes cotidianos dos alunos, tornando a alfabetização de adultos em algo mais leve e didático. 

Com tanto destaque o autor foi reconhecido e conquistou muitas premiações, dentre elas, 29 títulos de Doutor Honoris Causa, e premiação da Unesco de Educação em 1986. Embora muito valorizado mundo a fora, no próprio país merecia mais reconhecimento e destaque no campo educacional. Paulo Freire teve uma trajetória de vida vasta, faleceu em 1997 na cidade de São Paulo, aos 75 anos de idade.

“A Importância do Ato de Ler” não foi escrito propriamente como um livro, na verdade o mesmo surgiu da reunião de 3 artigos que de certa forma estavam interrelacionados, sendo um dos artigos sobre uma palestra do autor sobre a importância do ato da leitura.  

O livro é dividido em 5 partes, com 3 capítulos:

  • Prefácio
  • Apresentação
  • A importância do ato de ler 
  • Alfabetização de adultos e bibliotecas populares – uma introdução
  • O povo diz sua palavra ou a alfabetização em São Tomé e Príncipe 

 

O primeiro capítulo, intitulado como “A importância do ato de ler” trata justamente do valor que a leitura tem para a vida dos sujeitos, e como a partir dela os mesmos podem se enxergar como agentes participativos na sociedade. Já o capítulo seguinte aborda a importância de ter bibliotecas populares para acesso da comunidade e como elas podem colaborar positivamente para o processo de aprendizado dos adultos. Por último, o capítulo 3 apresenta a experiência empírica de Paulo Freire na alfabetização de alunos adultos em São Tomé e Príncipe, país que havia conquistado a independência recentemente.

Na seção intitulada “A importância do ato de ler” o autor começa com as lembranças de sua infância e sua experiência com a leitura da palavra e do mundo no meio familiar e também escolar. A intenção com essas memórias é mostrar ao leitor que não se adquire o conhecimento somente no ambiente escolar, pois em casa as crianças aprendem a ler o mundo, o seu mundo. Essas vivências antecedem o conhecimento da palavra escrita, e é chamada pelo escritor como “palavra-mundo”. As pessoas aprendem primeiro o que são os objetos, e não as palavras, por isso, as últimas são antecedidas pela forma como o indivíduo percebe o mundo e assim, dá significado as coisas.

Freire faz algumas críticas à escola, principalmente as de sua infância. Os colégios costumavam ensinar aos alunos sem aproximar a leitura de mundo da leitura da palavra, logo, as palavras pareciam estar fora da realidade dos alunos, o que prejudicava no processo de aprendizagem. Outra crítica feita por ele é a como os alunos aprendem a ler, de modo mnemônico, por meio de repetições, o que para Freire, não era um aprendizado efetivo, e sim mera decoração. Segundo o autor, de nada adianta ler em larga quantidade, sem compreender o real sentido da leitura (de forma crítica). As escolas costumavam (e ainda costumam) cobrar muito esse tipo de leitura “decoreba” que não dá significado para os estudantes.

No capítulo “Alfabetização de adultos e bibliotecas populares – uma introdução“, Freire faz alguns questionamentos acerca da conexão entre educação e política, pois são duas coisas que não podem ser desvinculadas. A escola não é e nem deve ter intenção de ser neutra. A escola é palco de poder, e para essa constatação, o autor remonta a formação da educação burguesa, que trouxe mudanças consideráveis à escola. Com isso, Freire quer mostrar ao leitor que a escola foi formatada para atender aos interesses burgueses, e até hoje isso persiste, logo, é necessário que os alunos tenham uma percepção crítica do mundo. Para isso, o educador deve romper com a concepção de aluno como receptáculo de informações e conteúdos, pois, ao fazer isso, o docente vai de encontro aos interesses burgueses, reforçando esse sistema.

A partir desses pontos é que o escritor aborda a questão das bibliotecas, que em sua maioria são usadas de forma incorreta, como amontoado de livros que não se conectam a realidade da comunidade. Como sugestão, Freire aponta para uma biblioteca realmente popular, que valorize o conhecimento e as histórias presentes no meio popular. Dessa forma, o gosto pela leitura seria mais aguçado, e a biblioteca não seria apenas um amontoado de livros sem sentido, mas sim um espaço de cultura e até mesmo lazer da comunidade. Se ver na história, se reconhecer enquanto sujeito é necessário para o aprendizado de qualidade.

Na última parte do livro, Freire conta um pouco de sua experiência com a alfabetização de adultos em São Tomé e Príncipe. O autor traz alguns trechos dos cadernos usados na alfabetização dos alunos, os chamados “Cadernos de Cultura Popular”. Algo que chama a atenção é a intencionalidade por trás destes, que é o estímulo à leitura por meio de aspectos que fazem parte do convívio dos alunos, como a Matabala (tipo de batata-doce) que era consumida com frequência pela comunidade. Os cadernos sempre tinham uma chamada para que o leitor exercitasse a escrita, como um estímulo para continuar a aprender pois “é praticando que se aprende”. O caráter político também não foge aos cadernos, pois eles trazem aspectos políticos que fazem parte da história de São Tomé e Príncipe, como a questão da Independência do país.

O ponto mais marcante do livro de Freire é como a educação tem sido pensada e como ela pode ser reconduzida. O texto aponta a todo momento como é importante que o sujeito que é alvo do aprendizado deva se enxergar nesse processo, sentir-se parte da sua própria aprendizagem, seja com coisas do seu cotidiano, ou outras formas que lhe remetam a proximidade. Mais do que educar, Freire mostra que a educação é muito mais abrangente, ela é resistência e um ato político, que deve ser exercitado. Cabe aos professores então, a missão de conduzir essa jornada e instigar questionamentos, reflexões e a leitura crítica.

Essa obra é de muita relevância para aqueles que ainda estão na graduação de licenciaturas, principalmente as que se ligam às ciências humanas, pois será muito útil não só na vida acadêmica, como também na profissional. O livro curto e de fácil entendimento por parte do leitor, a escrita de Freire é leve e trás consigo reflexões necessárias para aqueles que desejam aprimorar sua prática docente, por isso, também é indicado para os que já atuam como professores e querem tornar a aprendizagem dos alunos mais crítica e reflexiva.

 

 

 


REFERÊNCIAS

 

FRAZÃO, Dilva. PAULO FREIRE. Ebiografia, 2022. Disponível em: https://www.ebiografia.com/paulo_freire/. Acesso em: 05 de mar. 2023.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23° Ed. São Paulo: Cortez editora, 2022.

 

 

 


Créditos da imagem: A Importância do Ato de Ler. WIKIPÉDIA, [s.d].

 

 

 


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