A UERJ é um lugar que não tem porta dos fundos. A sua entrada principal está de frente para o Morro da Mangueira, para a estação do metrô Maracanã e para as estações de trem Maracanã/Mangueira. Boa parte de sua comunidade entra por ali, e não é por acaso, em se tratando de uma das universidades mais populares do Brasil. A bem da verdade, a UERJ foi construída sobre as ruínas de uma favela desmontada, então nada mais justo que o novo esqueleto erguido atendesse àquela parcela da população. Quem não entra por lá, entra pelo Portão 5, na Rua São Francisco Xavier, voltado para Vila Isabel, onde Noel Rosa é eternamente servido por um garçom de botequim, a quem pediu que o trouxesse “depressa / Uma boa média que não seja requentada / Um pão bem quente com manteiga à beça / Um guardanapo e um copo d’água bem gelada”[1]. De um lado, a UERJ recebe quem vem de trem ou metrô das Zonas Oeste, Norte ou Sul do Rio de Janeiro. Do outro, quem vem de ônibus do Centro, da Tijuca ou desce a serra Grajaú-Jacarepaguá – como o caso de Maíra Marinho, eleita vereadora do município do Rio de Janeiro (RJ) no ciclo eleitoral de 2024 e protagonista desta entrevista-perfil. Inegavelmente, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro é um ponto de muitos encontros.

Entrando pelo portão 1 ou pelo 5, a maior parte das pessoas atravessa o saguão do prédio principal, que faz a conexão entre o térreo e os 12 andares das salas de aula que sobem às nossas cabeças. Eventualmente, nos perdemos naquele sistema único de rampas em que dois meio-andares fazem um, e o total, na realidade, 24, mas logo voltamos a nos orientar. Era 2014, eu me encaminhava para me formar, a Maíra começava sua jornada na graduação, e já faz uma década que cohabitamos o 9° andar, onde fica o curso de História, e onde nos encontramos. “Costumo dizer que a UERJ me escolheu”, ela me falou, por ocasião desta entrevista. Quero dizer, me escreveu, já que foi uma comunicação por escrito, apesar de acordarmos em manter um tom oralizado de conversa. “Quando eu fui fazer a prova”, seguiu contando, “minha mãe disse que havia sonhado com a minha avó dizendo que eu iria passar [no vestibular] e não seria uma passagem qualquer pela universidade. Dona Iete estava certa.” Absolutamente estava, pois não foi. “Me entreguei para a UERJ e fui invadida por ela.” Muito “cria” da UERJ, Maíra lá se graduou (2020), se tornou Mestre (2022) e, desde 2023, está na elaboração de seu Doutorado. Além disso, chegou na universidade nos primeiros passos de seu caminhar político, em um momento disruptivo e conflituoso da conjuntura nacional, fluminense, carioca, e seu próprio andar foi costurando uma rede de conexões entre História, Política, e (nada) simplesmente, Vida.

Tudo começa na Vida. Maíra tem esse nome porque sua mãe, petista, que conheceu seu pai no Partido dos Trabalhadores, é uma “admiradora de Darcy Ribeiro e grande defensora dos CIEPs” que gostava de ler o romance homônimo e assim a batizou. “Desde muito pequena tive a infância interpelada por reuniões, congressos, manifestações, eleições. Minha casa sempre foi um depósito de materiais.” Mas, como “nem todo trajeto é reto / Nem o mar é regular[2], “nem sempre eu gostei disso. Na verdade, durante muitos anos eu neguei a militância, tentei seguir outro caminho.” Acontece que a cauda da serpente do tempo encontrou a boca. Em 2012, viu a região onde morava ser transformada nos preparativos da cidade para receber os megaeventos (Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016). “Remoções, encarecimento do custo de vida, crescimento das milícias”, e daí virou a chave para a militância. Se este foi o chamado racional para a ação política, a campanha de Marcelo Freixo, na época pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), para a prefeitura, tocou o coração. Era a primavera carioca. Saímos às ruas com camisas onde lia-se que “Nada deve parecer impossível de mudar[3], e com girassóis nos cabelos, representando aquele florescer. Assim como Maíra, também fui uma menina filha deste momento. “Aquela experiência me encantou, de fato, com a política, e nunca mais eu saí dela.” Nem eu. Hoje, ela e Marcelo Freixo são companheiros de partido, o PT, de onde, assim como Maíra, ele veio, e para onde ambos retornaram.

Perguntei-a, na entrevista, o que significava para ela carregar a bandeira do PT. Sua resposta considerou que é o lugar onde se pode construir o primeiro mandato fruto de uma decisão política por parte do Movimento dos Sem Terra para realizarem a primeira inserção institucional do movimento na Câmara Municipal do Rio. Maíra Marinho é bem assertiva quando fala que, junto dela, por trás e ao lado, em conexão, estão os movimentos sociais, o MST e o Levante Popular da Juventude. “Dizemos que o Levante e o MST são parte do mesmo campo político: o ‘projeto popular’, uma leitura de esquerda que retoma a necessidade de debater as principais reformas estruturais que o país precisa”. Como uma jovem suburbana, carioca, a luta rural parecia distante. Mas desde que o MST assumiu o compromisso de disputar os grandes centros urbanos, a partir do congresso de 2014, o movimento dispõe de ferramentas organizativas para unificar a classe trabalhadora urbana com a rural. Foi nesta proposição que o Levante toma corpo e vida” (onde tudo começa), inclusive no próprio corpo e vida de Maíra, escolhida e eleita como porta-bandeira não somente do PT e dos movimentos sociais, mas do povo. “Em nossas reuniões, trabalhamos a insígnia ‘o povo vai tomar posse’”, não somente ela, em pessoa. “A política, principalmente no Brasil e na Assembleia Legislativa, tem uma coisa muito personalista. Muitos partidos se organizam a partir de figuras, e não o contrário”. O Levante foi o movimento que eu descobri a política no cotidiano. Se não fossem esses movimentos ‘por trás’ da Maíra (gosto de pensar ‘ao lado’), eu afirmo que não existiria candidatura.”

E com a Vida… A História e a Política. Quando a Maíra fala da Política e da História, uma qualidade humana aparece, para ela, como intrigante, estando presente nos dois âmbitos: a capacidade de sermos criativos mesmo sob condições adversas. “O MST representa pra mim a maior expressão do que o povo brasileiro é capaz de fazer, mesmo com tantas desigualdades estruturais: o ato de fincar a bandeira em latifúndios improdutivos, produzir comida e vida nestes locais, produzir e comercializar esses alimentos, levantar uma Escola como a Nacional Florestan Fernandes, manter princípios de solidariedade internacional entre os povos, distribuir marmita durante a maior pandemia do século, produzir conhecimento…”. Sobre a História: “Sou profundamente apaixonada por este país, curiosa, e sempre me chamou a atenção a capacidade do povo brasileiro em ser criativo e subverter o que se espera originalmente por aqueles que detém o poder. Acredito muito na história vista de baixo, à contrapelo, das frestas: pra mim o tempo é disposto, sobretudo, nestas histórias. A escolha e paixão pela arte (principalmente pelo cinema) vem desta fascinação sobre a capacidade criativa dos nossos artistas e por entender que essas ferramentas também contam histórias.”[4] Em sua visão sobre o papel da História, novamente a resposta é “conexão”: “Na minha opinião, o principal papel da História é desenvolver, através do tempo, o encontro de ideias, valores, visões de mundo que se conectam muitas vezes sem se conhecer. E, por isso, aquecer o motor do que faz a sociedade se movimentar: a luta, incessante, pelo conjunto de forças produtivas sociais, culturais e econômicas. Mais do que ensinar sobre o passado, a História é um campo de conhecimento que nos faz encontrar com o presente, com os problemas cotidianos e poder desenvolver esta reflexão, conectando passado e presente, é o fenômeno da História. E é extraordinário.” Essa conexão da qual Maíra falou está longe de ser abstrata. Na política, ela veio a conhecer Regina Toscano, coordenadora da sua campanha e uma das principais incentivadoras do seu nome para estar à frente do mandato coletivo do MST e quem, antes, havia conhecido através do filme “Que bom te ver viva” (1989), de Lúcia Murat – que, por sua vez, conheceu através do meu trabalho de conclusão do curso, “SobreViver: a reelaboração da identidade de mulheres que passaram pela experiência da tortura na Ditadura Militar brasileira” (2017). Este encontro entre tempos, entre gerações, entre lutas é material, vivido dia a dia, não somente uma ideia – sem desconsiderar o papel das ideias como semente de ações.

As conexões não cessam por aí. A enviei as perguntas desta entrevista no dia 19 de dezembro, dia seguinte ao que foi diplomada vereadora do Rio de Janeiro (RJ). Foram duas diplomações. A primeira, oficial, no Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara Municipal, e outra, popular e mais “emocionante”, no Quilombo da Gamboa. Sobre elas, me disse: “A cerimônia de diplomação foi o primeiro momento em que me vi vereadora. Fiquei super nervosa, naturalmente, mas quando cheguei à Câmara, enfrentei e fui. […] Com meu blazer vermelho, um pontinho de cor em meio a ternos e paletós quase monocromáticos. […] Levei minha bandeira do MST, e quando meu nome foi chamado para pegar o diploma, abri como um ato de demonstração que meu mandato não é da Maíra, e sim parte de uma bandeira muito maior e mais antiga que eu. Também como um ato de demonstrar para aquela casa legislativa que os movimentos sociais podem estar escrevendo leis, pautando um debate sobre a cidade, afinal, foi a primeira vez que elegemos uma candidatura gestada nestes movimentos.” Já a diplomação popular, “intitulamos de ‘posse popular’, experiência que já tinha acontecido com a deputada estadual Marina do MST (PT) – uma mulher que me inspira bastante, diga-se de passagem. Mobilizamos cerca de 200 pessoas em pleno mês de dezembro, animadas e dispostas em contribuir com este mandato. Ali, fiz uma fala emocionada, sentindo o calor dos ‘meus’/’nossos’, assumindo compromissos e distribuímos pequenos diplomas fotocopiados do original, como simbologia da diplomação de um coletivo. Foi muito bonito ver gente de todos os cantos da cidade depositando fé e esperança neste mandato. Me sinto e me senti ‘povoada’, preenchida de amor e confiança deste povo que me escolheu. “Sou uma / Mas não sou só”.[5]

No dia em que ela me respondeu, 16 de janeiro, Elizabeth Teixeira completou 100 anos de idade, e “isso mostra a fortaleza desta mulher, e principalmente da luta que ela construiu em toda a sua vida”. Maíra citou uma fala sua para o “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), de Eduardo Coutinho, filme que escolheu como referência para este momento de sua vida. Disse Elizabeth Teixeira que “a luta que não para. A mesma necessidade de 64 está traçada, ela não fugiu um milímetro. É a mesma necessidade na fisionomia do operário, do homem do campo e do estudante. A luta não pode parar.” E no dia que começo a trabalhar no texto do perfil para publicação, 17 de fevereiro, Maíra fez sua estreia no plenário, falando ao povo carioca diretamente da Tribuna Marielle Franco. Nas perguntas enviadas, questionei o que pensa e sente sobre ocupar o mesmo espaço que essa grande personalidade para a nossa geração. “O assassinato da Marielle foi um dos maiores traumas vividos nos últimos tempos. Uma vereadora muito presente na vida política, leonina – uma vez, comemoramos aniversário juntas -, simboliza tudo aquilo que o patriarcado mais quer ver extirpado: uma mulher, negra, socialista, que amava outra mulher e com uma voz potente e altiva. Eu penso muito sobre isso, na verdade, porque Marielle representa muita coisa pra mim. Eu lembro muito quando ela foi assassinada. Era dia de jogo do Flamengo, eu estava saindo da UERJ para assistir ao jogo e minha amiga, Clarice, mandou uma mensagem falando sobre a brutalidade. Eu senti como se estivessem enfiando uma faca nas minhas costas, como se tivesse ido uma parte do que eu acreditava, uma referência. Do nada caiu um temporal, coisas que só a natureza quando conectada com uma alma revolucionária digna do poder de Iansã consegue explicar.”

Já finalizando, perguntei a ela o que pensava sobre o ano de 2013 – “ainda não acabou, mas as forças progressistas conseguiram reocupar o espaço institucional”, o que demanda “atenção e firmeza, pois o neofascismo ressurgiu nas ruas e segue vivo” -, e qual o principal compromisso do mandato -, “é com o combate à fome na cidade. Temos cerca de 2 milhões de cariocas em insegurança alimentar e 500 mil em estado de insegurança alimentar grave. […] Queremos pautar uma Comissão Especial de Segurança Alimentar na Câmara Municipal, como ferramenta para monitorar, propor e fortalecer os movimentos sociais que defendem comida de qualidade na mesa do povo carioca”. Quando convidei a Maíra para esta entrevista, expliquei que seria especialmente para a HH Magazine justamente pela afinidade entre sua visão de História com a da revista, que faz um trabalho de divulgação científica e popularização das Ciências Humanas, conhecimento eminentemente Político e que só faz sentido na Vida. Assim, pedi uma música para essa nova fase, e ela me disse “Oriente”, de Gilberto Gil, que nos faz sentir e pulsar o fluxo destas tantas conexões… Cantamos: “Se oriente, rapaz / Pela constelação do Cruzeiro do Sul / Se oriente, rapaz / Pela constatação de que a aranha / Vive do que tece / Vê se não se esquece / Pela simples razão de que tudo merece / Consideração / Considere, rapaz / A possibilidade de ir pro Japão / Num cargueiro do Lloyd lavando o porão / Pela curiosidade de ver / Onde o sol se esconde / Vê se compreende / Pela simples razão de que tudo depende / De determinação / Determine, rapaz / Onde vai ser seu curso de pós-graduação / Se oriente, rapaz / Pela rotação da Terra em torno do Sol / Sorridente, rapaz / Pela continuidade do sonho de Adão”.[6]

 

 

 


NOTAS

 

[1] “Seu garçom faça o favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada / Um pão bem quente com manteiga à beça / Um guardanapo e um copo d’água bem gelada / Feche a porta da direita com muito cuidado / Que não estou disposto a ficar exposto ao sol […]”. Samba Conversa de Botequim, de Noel Rosa e Vadico.

[2] “Nem todo trajeto é reto / Nem o mar é regular / Estrada, caminho torto / Me perco pra encontrar / Abrindo talho na vida / Até que eu possa passar / Como um moinho que roda / Traçando a linha sem fim / E desbravando o futuro / Girando em volta de mim / Correndo o mundo / (Cobra rasteira) / Me engoli de vez / (Cobra rasteira) / Ô, giramundo / (Cobra rasteira) / Assim o chão se fez”. Cobra Rasteira, Metá Metá.

[3] “Desconfiai do mais trivial / na aparência singelo. / E examinai, sobretudo, o que parece habitual. / Suplicamos expressamente: / não aceiteis o que é de hábito / como coisa natural. / Pois em tempo de desordem sangrenta, / de confusão organizada, / de arbitrariedade consciente, / de humanidade desumanizada, / nada deve parecer natural.” Nada deve parecer impossível de mudar. Bertolt Brecht.

[4] Nesta altura da conversa, Maíra citou com carinho a minha monografia, em trecho que reproduzo na íntegra: “Uma vez lendo a sua monografia, Carol, aprendi que a velha história dos postulados científicos do século XIX não estava preparada para o ‘boom’ de sensações que o cinema é capaz de construir, e por isso somos defensoras da ‘aberturas dos ouvidos’ da História às ferramentas artísticas porque são elas uma das maiores capacidades de democratização do pensamento histórico. Fazem a gente refletir, na hora, ver-criar-recriar; e por isso são históricas.” Maíra Marinho está sendo orientada, no Doutorado, pela professora Márcia Gonçalves, e coorientada pelo professor Daniel Pinha, que foi orientador da minha monografia. No Mestrado, foi orientada pela professora Beatriz Vieira, uma importante referência para a minha tese de Doutorado.

[5] “A Terra é povoada / Mas, também sou terra / A gente também é terra de povoar / Deus te ajuda / Deus te ajude e te livre do mal / Te desejo tudo de bom, viu fia’? (Povoada!) / Eu sou uma, mas não sou só, minha fia’ / Povoada / Quem falou que eu ando só? / Nessa terra, nesse chão de meu Deus / Sou uma mas não sou só.” Povoada. Sued Nunes.

[6] Oriente. In: Expresso 2222. Gilberto Gil.

 

 

 


REFERÊNCIAS

 

BRECHT, Bertolt. Antologia poética. Rio de Janeiro: ELO Editora, 1982.

COUTINHO, Eduardo. Cabra Marcado para Morrer. Rio de Janeiro: Mapa Filmes, Globo Vídeo, 1984. 119 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DAPs2Jw6R3k. Acesso: 01/04/2025, 22h30.

GIL, Gilberto. Oriente. In: Expresso 2222. São Paulo: Philips Records, 1972. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3sMZmXXx0Rg. Acesso: 01/04/2025, 22h22.

METÁ METÁ. Cobra rasteira. In: Metal Metal. 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7GoC_EjQVJk. Acesso: 01/04/2025, 22h.

MONAY, Ana Carolina. SobreViver: a reelaboração da identidade de mulheres que passaram pela experiência da tortura na Ditadura Militar brasileira. TCC/Monografia, Graduação em História. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ), pp. 67, 2017.

MURAT, Lúcia. Que bom te ver viva. Rio de Janeiro: Taiga Filmes, 1989. 95 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zqpybT37k9A&t=1430s. Acesso: 01/04/2025, 22h18.

NUNES, Sued. Povoada. (Single), 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dIFzUVxAb8c. Acesso: 01/04/2025, 22h25.

ROSA, Noel e VADICO. Intérprete: ROSA, Noel. Conversa de Botequim. 1935. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=in9W6vHyI5k. Acesso: 01/04/2025, 22h07.

 

 

 


Créditos na imagem de capa: Maíra do MST (PT) na cerimônia de diplomação oficial na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 18/04/2024. Disponível em: https://www.instagram.com/p/DDuaJuzP6QR/. Acesso: 01/04/2025, 22h45.