Nosso coração está desnudo.
Somos o que temos e somos o que somos.
Pelo chão,
Ou pelo espaço qualquer que se tornou perigo – que nos chama e nos repele –,
Os retalhos;
Memórias colhidas no vento do tempo.
Construímos impérios, cidades e o que nos cerca.
O feio e o belo; o crer e o credo.
Escrevemos coisas, compreendemos o mundo.
Almejamos os abraços e matamos sem nenhum escrúpulo.
Hoje, colhemos coisas outras além da própria vida.
E, por mais que tenhamos chorado – em algum lugar muito remoto –
A saudade, a perda e a vontade;
Onde diabos estamos que negamos a vida como negamos a morte e o caos?
Porque morte e vida sempre estiveram ao nosso redor.
Mas tudo o que vemos, tudo o que temos,
Tudo o que queremos é não ver o tempo passar.
Mas se nascemos, morremos.
E, sabendo disso, minamos a dor, fazemos graça e sorrimos para o nada que é
O corpo de alguma pessoa que morrerá amanhã; mas que não,
Nunca, não há de ser você.
Desatentos, lançamos nosso corpo sobre o espaço.
À procura de vida, ou atrás de mais trapos.
O dinheiro que enche poucos bolsos e põe à deriva multidões,
Que servem apenas para povoar a terra e servir aos grandes.
Da fome à perdição, existências são frustradas a todo instante.
Mas a constante que nos move é a mesma que temos em relação à morte:
Empurramos com a barriga.
E a Terra, que nos cria, colocamos à deriva.
A aquecemos, nos esquecemos, flertamos com o caos do fim.
Criamos arte, fazemos graça e cremos na gloriosa Salvação.
Mas nossas mãos estão acostumadas com o bolso.
E, se por alguns instantes, nos pegamos a questionar, voltamos atrás, “à razão!”.
E se por muitas e muitas vezes ouvimos os gritos que ecoam pela terra – como que um recado da própria Terra –, nos chamando para o que deveria ser o verdadeiro eu-ser neste mundo que nos dá as mais do que perfeitas condições de vida,
Dizemos que é loucura; a loucura de tirar as mãos do bolso e colocá-las em ação.
Nosso coração desnudo é a vergonha de nosso próprio ser.
Porque, com a nudez, o ser se vê, e se reconhece.
E, envergonha;
Quando tudo o que conhecemos nos puxa para fora,
Nos bate na cara e nos mostra o ser humano que somos;
Aquela coisa horrível que mata e devora e que vive como parasita nesta Terra
Que “nos fez gente estranha e alheia a tudo”.
E meu coração, bate envergonhado.
O conflito segue em mim, como quando descobri que a pele que tenho carrega
Muito mais do que a história que ouço por todos os lados.
O conflito que habita em mim é um isolamento constante a que estou imposto,
Porque se me lanço para fora e vejo apenas com os outros olhos, vejo outros.
E o eu que tenho e sou se perde em outros, conhece outros
E esses outros se voltam contra mim.
A humanidade que quero é outra.
A humanidade que o mundo precisa é outra.
Porque essa humanidade que forjaram e que é um apenas
Humano-extrai-tudo para um raso si,
Está levando tudo para um lugar cada vez mais remoto e abstrato.
E, daqui algum tempo, não haverá nem ser humano, nem cultura,
Nem beleza, nem História, nem momento, nem nada.
E a Terra estará livre.
Créditos na imagem: Frida Kahlo. My Dress Hangs There (1933).
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Isaías dos Anjos Borja (Xipu Puri)
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Journal of Theory and History of Historiography
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