Para Tatiana Ribeiro

 

 

Manhã molhada. Dia seguinte ao dia de ver o Grupo Corpo com Tatiana Ribeiro, Mad Barros e Alícia no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Comecei o dia por ter que encontrar cabo de força para o notebook, pois esqueci o meu numa cadeira da sala de leitura do Setor de Obras Raras da Biblioteca Nacional onde trabalhei ontem.

No Largo do Machado, não encontrei cabo que tivesse a entrada certa, apenas a voltagem. Resolvi comprar um bloco de papel para tomar nota à mão, a lápis. Entretanto, me lembrei que no Largo da Carioca, próximo da Biblioteca Nacional há uma galeria onde se vendem periféricos de computador. Certamente, lá haveria cabo para minha máquina portátil. Havia.

Manhã seca àquela altura, mas ainda manhã. Trabalharia mais rápido, eficiente e confortável do que se não trabalhasse com a máquina. Li os diários que li. Foram dois. O cabo esquecido não pude pegar, pois o setor de Obras Raras não abre aos sábados. Pego depois, oportunamente.

Choveu novamente à noite toda. Eu dormi, acordando, preocupado com o cabo. Manhã suada já.

O espetáculo do Grupo Corpo, dividido em duas partes, duas coreografias, comemora os 40 anos da companhia. Belo, belíssimo, lindo, lindíssimo. Gostei mais da segunda coreografia, da segunda parte. A primeira, eu achei muito branca, muito fria, cheia de citações, referências, muito dança de rua, break. A segunda, eu achei mais quente, mais dramática, mais teatral. E a bailarina no colo do bailarino me fez ouvir a frase:

– Que saudades da mãe!

Os diários de ontem foram pretextos e cumprimento do dia. Bailei mesmo a espera de ver o Corpo.

Durante o espetáculo, me lembrei de que eles, o Grupo Corpo, dançam por nós. Na segunda coreografia, cheguei a chorar em silêncio, no escuro, na Galeria.

O Teatro Municipal é aquela coisa eclética. Construção do tipo tem tudo, tem de um tudo. Chega a ser cafona, mas é lindo.

Alícia, na maturidade de seus 6 anos, se comportou muito bem e disse ter amado o balé. Mad Barros parece que desenhou o espetáculo com seu silêncio e ar enigmático.

Tatiana e eu trocamos impressões e cada um disse o que mais gosta do Grupo Corpo, qual das coreografias dos 40 anos que são nossas preferidas.

O dia veio para casa de metrô, constatando que não apenas essa crônica vinha, mas muitos dos que estavam no teatro àquela noite, a maioria vindo para a Zona Sul, uma vez que a plataforma que leva o trem para a Zona Norte estava menos cheia.

Antes de dormir, a crônica se lembrou de que eu e a moça do café da esquina da México com Araújo Porto Alegre não mais nos falamos. Terminamos nosso namoro. Eu me limito a tomar café e ela a me servir. Eu pago, ela vende. Nem seu batom mais me diz nada. Ele é tão branco e frio como a primeira coreografia do espetáculo de ontem.

Vermelho e preto, quente, dramático e teatral somos eu e minha pesquisa, que trabalhamos sábado numa Biblioteca Nacional quase vazia, quase irritada com quem trabalha. Vermelho e quente é meu coração de estudante, meu coração de cronista.

Hoje, quando saí de casa, na manhã molhada, a música que levava comigo na cabeça e nos lábios como assobio era eu vou rifar meu coração, de Lindomar Castilho. Teria rifado? Será que rifei? Rifei não?

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução: Banner Companhia Grupo Corpo. Disponível em: https://grupocorpo.com.br/companhia/

 

 

 

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