Senhor, pequei mas não porque hei pecado.
Senhor, pequei por uma crase não ter usado.
O louco de Facebook se parece com o louco de palestra. Um dia, ele te envia uma mensagem privada dizendo que se sente ameaçado em seu trabalho, em virtude das opiniões que publica no Facebook. Diz que não vai mais publicar coisas nesse sentido. E que se você não quiser ser mais seu contato, entenderá.
Daí, você responde que tudo bem. Não explica para não encompridar.
O louco de Facebook entende que você não quer mais ser contato dele. Você explica que não é isso, que apenas não pode escrever naquele momento.
Vou encurtar o que o louco de Facebook quis encompridar.
Contato mantido. Dias depois, o louco de Facebook escreve dizendo que um seu poema tal não tem uma crase e está cheio de qual, onde deveria ter que. E te dá uma aulinha de gramática normativa.
Você agradece, corrige a falta da crase, mas diz que o poema está num registro coloquial da língua e que aqueles quais cabem. Deseja boa tarde, pois está ocupado e não pode conversar.
O louco de Facebook se lembra que você disse que não sabia nada dele, quem ele era (quem conhece quem, não é mesmo?), de seu trabalho etc. Isso não era um desprezo, nenhuma grosseria. Era apenas para dizer que se o louco de Facebook se sentia ameaçado em seu trabalho você não tinha nada com isso, não participava disso.
Mas, o louco de Facebook se ofende e passa a arrotar currículo. Mais, bem mais: o louco de Facebook passa a cobrar você de não ter nunca comentado poema dele.
Você diz que não quer treta.
O louco de Facebook diz que não conhece essa palavra.
– É gíria paulista? Pergunta.
Você explica, dizendo que acompanha as tretas dele. Você não quer encompridar, mas o louco de Facebook encomprida. E obriga você a dizer que ele é chato e que o vai bloquear.
Não há poesia que resista. Maldita crase que não foi feita para humilhar ninguém.
Créditos na imagem: Divulgação. Chronosfer
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Eduardo Sinkevisque
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História da Historiografia: International
Journal of Theory and History of Historiography
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