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América
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América 

 

Haverá tempo em que de fato e sem culpa

Faremos nossa própria sorte?

Lançando fora os maus sonhos recorrentes

Que nos esmagam em espirais temporais;

Da separação que nos leva

Ao ponte de partida?

 

Porque ainda que meu corpo morra,

Meu espírito tão mais ainda será seu.

E se isso é fé,  não importa;

Se eu me sentir vivo em você.

 

Eternos, na finita duração;

Da folha que cai ao sorriso que (me) nutre com vida.

A vontade de sermos bem sucedidos.

O sonho de um, pesadelos do outro.

O prazer de sua companhia no jantar.

As montanhas para um nós feito lar.

 

O temor que habita dias que nem existem.

A lareira onde sentaremos,

Aquecidos pelas chamas da madeira.

Não se preocupe.

Voltaremos ao ponto

De onde outrora partimos

E cruzamos.

A abelha que tem mel tem ferrão no rabo.

E, será que tomaremos novamente o lado errado na história?

Porque se nossa presença puder ser sentida neste mundo,

Haverá de ser alguma coisa.

Se ficarmos, ficamos;

Se partirmos, partiremos.

Mas, pergunta-se: “o que dirão?”.

Embora suas sobrancelhas cerradas digam

Que não há limites para um intraçável céu;

Vivemos num país selvagem,

Meu lugar é ao lado seu.

 

Que deus bendirá?

Somos navios num rio largo;

Poetas e bobos da corte;

Mórbidas dores, que passam antes do anoitecer.

Será que ainda teremos tempo o suficiente para ouvirmos os pássaros da tarde?

Será que há de ouvirmos as correntes do rio que passa?

Talvez um dia eu o cubra com rendas e joias,

Para além do tanto que já me dei.

Porque espero nunca ter-te dado razões para se arrepender;

Assim como razões não encontrei para que eu pudesse um dia morrer.

 

Linda América!

Dos doces socos e beijos vivos.

Do anel que nos foi roubado.

Do amor arrancado à força do peito

E paralisado.

O choro seco

Impulsiona o sangue para fora do corpo.

O frio e a roupa branca em sangue vinho.

A noite e nosso breu eterno;

Dos sonhos bons e recorrentes;

Da escuridão ressoante no ouvido

E das mãos que nunca se perderam no horizonte.

 

 

 


Créditos na imagem: Frida Kahlo. Moises (1945).

 

 

 

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