Queima a teima em sua fronte anacrônica
De tez amarrada no construto perdido na selva do coração de pedra
Queima a Mata onde fundaste teus pés de Memória
De Raízes pálidas de tanto sofrimento
Da Melancolia curtida nos trópicos sob o intenso sol
Bonita, contida, fina
Repelente remorso contra os raios lúcidos da História…
Teimam as Grades com seus Currículos fechados
Negacionismo curtido nas folhas de palmeiras
Onde cantam Fulano de Beltrano, Gasturano, Preguiçano
Que chegou e erigiu um pedaço de pau no meio do Mundo
Mas alheios são ao próprio chão
Sendo Casa o eterno e já utópico canto
De onde vieram trazendo Deus, com os demônios e todo o escambau…
Teima o Mistério da Santa Justiça, Monarquista
Que clama o doce verde, amarelo e, ah, o azul…
Que no fim das contas é Euro, é Hetero, é Cristão, Mireteteno2…
Tudo certinho, chapado, para o Gado viver em Paz
Alimentar o Mundo Enquanto nossas gentes passam fome
E o céu marcado com a Cruz até trombeta mais cedo,
Com as casas de rezo queimadas,
Com as Vidas Indígenas e Negras
Escolhidas com profunda Fé pelos Santos Curadores do Destino, que provam tudo
Menos a Nação, que queima de uma febre brava no chão frio de alguma Basílica
NOTAS
1 Originalmente publicado no perfil literário @xipupuri, na rede social Instagram
2 Do kwaytikindo, língua Puri, “dinheiro”
Créditos na imagem: Divulgação. Denilson Baniwa. Caçadores de Ficções Coloniais (2021).
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